Baixa a bola.
As piores escolhas que fiz na vida foram sob o efeito do álcool. As piores. E é graças a ele que levo comigo algumas cicatrizes desse exagero. Em 2009 me acidentei duas vezes de moto. Na primeira queda um dedo quebrado e pra sempre deformado. Na segunda quase perdi a vida ao me chocar com um muro. Isso sem levar em conta as coisas que não deveriam ter sido ditas, a exposição ao ridículo, as brigas e a pior de tudo: magoar e envergonhar aqueles que amamos. Essa é a história de muita gente que aprendeu a desde cedo a normalizar o consumo de álcool e a romantizar o estado de embriaguez.
Não virei um santo. Gosto de cerveja e tomar uma garrafa da minha marca favorita após um dia exaustivo de trabalho proporciona um sentimento de conforto. Mas é aqui que mora o começo de toda desgraça: essa associação de prazer e álcool, de que é simplesmente impossível obter esse tipo de sentimento de outras formas. Desde que minha filha nasceu questiono essa relação conturbada.
“Hoje eu vou beber Hoje eu vou ficar locão Hoje eu nao quero voltar Pra minha casa não Pra minha casa não Pra minha casa não Pra minha casa não Hoje eu vou virar O Fábio Assunção” diz o trecho da música “Fábio Assunção“, um potencial hit do verão brasileiro 2019. A música é apenas mais uma que glamoriza o consumo de álcool e drogas. Não que eu tenha virado moralista do dia pra noite e acho que esse tipo de coisa deve ser proibida, nada disso.
O número de mortes violentas no trânsito ou casos de adolescentes com overdose deveriam ser suficientes para sustentar meu argumento que esse tipo de postura está nos destruindo. Mas o fato é que o que poderia ser apenas mais um hit, se tornou uma oportunidade do alvo das piadas adotar uma postura combativa.
Fábio Assunção veio a público dizer que entrou em acordo com a banda La Fúria e todo o dinheiro arrecadado com a música será revertido para instituições que tratam dependentes químicos. Porque é isso que o ator é: um dependente químico. E nosso moralismo que aceita o beberrão posando com foto de whisky no Instagram, não aceita um alcoólatra. E muito menos um dependente de drogas que busca recuperação. Com isso vem a zombaria, a exposição em praça pública, a gracinha no gupo de WhatsApp.
Fábio poderia ter processado meio mundo, gritado pra todo lado. Mas não, ele resolveu ir pro caminho difícil que é a conscientização. Em seus relatos no Instagram, ele foi certeiro na mensagem: “Nós não somos super heróis. Cuide de você, cuide de quem você ama, cuide dos seus amigos nas festas, nas ruas“.
É isso. Procure se cuidar.